quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Divindades Femininas: As Taras

Até os primeiros anos da era cristã, o princípio masculino reinava, supremo e tranqüilo, tanto no budismo quanto no bramanismo. As divindades hindus, herdadas e assumidas pelo budismo, eram quase que exclusivamente masculinas. Os budas e bodhisattas, pertencentes ao budismo Mahayana em seus primórdios eram quase inteiramente masculinos.

As primeiras divindades femininas a aparecer no budismo Mahayana foram Tara e Prajnaparamita. Tara, a Salvadora, aparecendo no século II, representa a epifania da Grande Mãe cujo culto se estendeu, em tempos antigos, sobre o vasto território afro-egeu-asiático e sempre foi adorada pela camada pré-ariana da população da Índia.

Foi durante o primeiro milênio da era cristã, que os ensinamentos místicos ocultos do tantrismo se espalharam pela índia, obliterando muitas das diferenças entre o hinduísmo e o budismo. Muitas divindades hindus foram incluídas no panteão budista como bodhisattvas e dharmapalas (Defensores da Doutrina).

No posterior budismo tântrico, especialmente o Vjarayana (Caminho do Diamante), que sobreviveu apenas no Tibete, cada divindade masculina foi presenteada com uma parceira feminina, como no hinduísmo, mas os significados filosóficos são diferentes. No hinduísmo, a divindade feminina representa a parceira ativa, a shakti (poder ou energia), do Senhor Shiva, que sem ela teria permanecido no sono profundo do Absoluto. O budismo reverte esses papéis de acordo com a filosofia mística do Prajnaparamita (discursos do Buda). A divindade feminina não é shakti, mas prajna (sabedoria), que é identificada como "shunya" a Vacuidade. Prajna é o que concorda, o passivo, o contemplativo. Os Budas e as divindades masculinas são os parceiros ativos, simbolizando karma (compaixão) e upaya (método ou habilidades), as características fundamentais de um bodhisatta.

A união mística das dualidades do mundo e especialmente a união inseparável da sabedoria, o princípio feminino, e da compaixão, o princípio masculino, é vivamente simbolizada na arte e no ritual tibetanos, de forma mais forte talvez pelo vjara e pelo sino, e também pelo abraço sagrado das divindades, chamadas em tibetano de yab-yum (pai-mãe). Com o auxílio desses símbolos, o adepto da meditação transcende as dualidades dentro de sua própria natureza. A síntese final entre compaixão e sabedoria leva à percepção do Absoluto.

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